Pela Solidariedade Internacional e Contra a Barbárie no Sudão

A guerra que assola o Sudão desde Abril de 2023 não é um conflito isolado ou um simples acerto de contas entre facções locais. É a expressão brutal e sanguinária da lógica perversa do Estado e do Capital. Enquanto a máquina de guerra, alimentada por interesses geopolíticos e pela ganância das indústrias de armamento, devora vidas, o povo sudanês é massacrado, deslocado à força e condenado à fome. A União Anarquista Federalista ergue a voz para denunciar veementemente esta carnificina, fruto podre de um sistema que coloca o poder e o lucro acima da dignidade humana. Esta guerra é a prova cabal de que o Estado, longe de ser um protetor, é o principal gestor da violência e da exploração.

A ingerência estrangeira no conflito, com o fornecimento de armas e treinamento por nações como os Emirados Árabes Unidos, Rússia, Egito e Itália, revela a natureza hipócrita e criminosa do capitalismo global. Estas potências, independentemente das suas bandeiras, são cúmplices na matança de milhares de civis e na criação de uma crise humanitária que já deslocou mais de 10 milhões de pessoas. O Estado, em sua versão local ou internacional, não busca a paz; ele mercantiliza a guerra, transformando o sofrimento do povo sudanês em moeda de troca para ampliar suas esferas de influência e acumular riquezas. A fome que atinge mais de meio milhão de pessoas não é um acidente, mas uma consequência direta desta economia de morte.

Contudo, mesmo perante esta cortina de fogo e aço, a centelha da resistência popular não se apagou. Inspiradora é a coragem dos Comitês Revolucionários e da Federação Anarquista Sudanesa (S.A.F.), que, organizados de baixo para cima, enfrentam não apenas as balas dos beligerantes, mas também a repressão, a tortura e o assassinato por ousarem lutar pela paz e pela liberdade. A sua luta é a nossa luta. A sua campanha internacional de solidariedade, que permite a fuga de camaradas e a continuidade da atividade militante, é um exemplo prático do mutualismo e do apoio direto que defendemos, em contraste total com a “ajuda” interesseira dos Estados.

Esta luta no Sudão ecoa a nossa própria batalha contra o militarismo aqui no território dominado pelo estado brasileiro. A estratégia federalista, que visa construir pontes de solidariedade entre os povos, para além das fronteiras impostas pelos Estados é fundamental, já que, enquanto os governos treinam e armam facções para dizimar populações, nós, anarquistas, construímos redes de apoio mútuo e de resistência popular.

Portanto, condenamos a guerra no Sudão e em todos os lugares como o mais grave dos crimes estatais e capitalistas. Afirmamos que a verdadeira solução não virá de novos governos ou de intervenções imperialistas, mas da auto-organização dos explorados, da ação direta e da solidariedade internacionalista. Aos camaradas sudaneses, nosso mais profundo apoio e compromisso. Aos opressores, nossa mais firme oposição. O futuro não pertence aos generais e capitalistas, mas aos povos que, livres da dominação do Estado e do jugo do capital, se organizam em federações de comunidades livres. Pela libertação social e pelo fim de todas as guerras!

União Anarquista Federalista

A Fome é uma Invenção do Capitalismo: Da Mentira da Escassez à Luta pela Soberania Alimentar

Reproduzimos o texto oriundo da conferência proferida no dia 03/10/2025:

A fome é sistematicamente apresentada como um problema técnico, resultado de uma suposta falta de comida, ou como uma tragédia natural decorrente de secas e guerras. Esta é a grande mentira que nos é contada. Na realidade, a fome não é uma falha do sistema capitalista; é uma de suas funcionalidades mais cruéis e brutais, a expressão máxima de uma lógica que coloca o lucro acima da vida.

A prova mais contundente dessa perversidade está no Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Na safra de 2022/2023, o país produziu mais de 300 milhões de toneladas de grãos. Se essa produção fosse simplesmente dividida pela população, cada brasileiro teria direito a mais de 4 kg de comida por dia. No entanto, em meio a essa abundância obscena, 33 milhões de pessoas passam fome e 70 milhões vivem em insegurança alimentar. Como é possível? A resposta é simples e direta: o sistema não produz para alimentar; produz para lucrar.

Esta é a lógica perversa do capitalismo: a comida não é um direito, é uma mercadoria. Seu valor primordial não está em nutrir pessoas, mas em gerar acumulação de capital. É mais lucrativo para uma grande corporação transformar milho em etanol ou ração para gado confinado do que garantir comida barata para a população. O desperdício deliberado — jogar leite fora ou deixar frutas apodrecerem — é uma estratégia de mercado para manter os preços altos. Quem comanda esse sistema são cerca de 50 corporações globais, como Cargill, Bayer e Nestlé, que controlam a produção, a distribuição e os preços dos alimentos. A comida está nas mãos de quem quer sugar lucro, não nutrir vidas.

No Brasil, a face mais visível dessa máquina de gerar fome é o agronegócio. Ele não produz comida; produz commodities para exportação. Enquanto ocupa 75% das terras cultiváveis, é a agricultura familiar, que usa apenas 23% da área, quem coloca a comida de verdade na mesa do brasileiro, responsável por 70% do feijão, 58% do leite e 38% do café. Ainda assim, o agronegócio recebe a esmagadora maioria dos subsídios e créditos governamentais. O sistema, portanto, financia quem exporta lucro, não quem alimenta o povo. E o faz através da expulsão de comunidades tradicionais, do envenenamento da terra com agrotóxicos e da destruição de biomas, consolidando-se como um projeto de morte.

O Estado, longe de ser um mediador neutro, atua como o gerente desse capital. O desmonte de políticas públicas é uma escolha política. O Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU em 2014 graças a políticas robustas de apoio à agricultura familiar e distribuição de renda. Com o governo posterior, essas políticas foram desmontadas, e o país retornou ao Mapa da Fome em 2022. Isso não foi um acidente, mas a consequência direta de um Estado que serve ao capital e joga com a vida do povo conforme os interesses das classes dominantes. Programas bem-sucedidos como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE, que direciona 30% da alimentação escolar para a agricultura familiar, mostram que soluções existem, mas são sempre os primeiros alvos quando o capital exige austeridade.

Diante desse cenário, não basta denunciar. É preciso construir as alternativas aqui e agora, sem depender do Estado ou das corporações. A Ação Direta se materializa nas ocupações de terra do MST e outros movimentos, que não são “invasões”, mas a recuperação de terras roubadas para um propósito social: produzir comida de verdade, sem veneno, de forma cooperada. O Apoio Mútuo se concretiza nas cooperativas de agricultura familiar, nas feiras livres, nas hortas comunitárias e nos circuitos curtos de produção e consumo. Um exemplo prático é a ASTRAF no Distrito Federal, que produz 40 toneladas de alimentos orgânicos por mês e abastece diretamente as escolas públicas. Isso é soberania alimentar na prática: o povo controlando o que produz e o que come.

Conclui-se, portanto, que a fome é uma arma política. É um instrumento para controlar, disciplinar e fragilizar a classe trabalhadora. Um povo com fome é mais fácil de manipular. O problema mundial nunca foi a falta de comida, e sim a concentração de renda, terra, poder e lucro — engrenagens do Estado e do Capital que fabricam a escassez. Nossa luta não é por migalhas ou “mais políticas públicas”. É por uma mudança radical: pela terra livre, pelas sementes crioulas, pela autogestão das comunidades e pelo fim do poder das corporações e do Estado. A fome é uma invenção do capitalismo. E a nossa tarefa histórica é inventar, com nossas próprias mãos, um mundo novo onde ela seja apenas uma lembrança ruim. Pela terra, pela liberdade e pelo fim de toda a dominação!

Liberto Herrera.

União Anarquista Federalista – UAF

Do Debate à Ação: Forjando a Liberdade em Lajinha!

Companheiras, companheiros, povo consciente de Lajinha e de todo território dominado pelo Estado brasileiro!

Enquanto os de cima festejam em seus salões e apostam na nossa desunião, nós, da União Anarquista Federalista (UAF), fazemos o que eles mais temem: nos reunimos, debatemos e forjamos nossa própria liberdade. No fim da tarde de 30 de setembro, a revolução não gritou nas ruas, mas sussurrou e raciocinou em uma poderosa roda de conversa. O povo se reuniu não para ouvir um líder, mas para construir, coletivamente, o caminho da sua própria emancipação.

Os temas não foram acadêmicos. Foram ferramentas. Autogestão – a prova prática de que não precisamos de patrões para organizar nosso trabalho e nossas vidas. Apoio Mútuo – a arma letal contra a lógica individualista e competitiva que o Capital nos impõe. Solidariedade de Classe – a compreensão de que a luta do operário da fábrica é a mesma do camponês do campo, do favelado, do estudante endividado e da mãe solo que luta para sobreviver.

Este não foi um debate de ideias abstratas. Foi uma trincheira de formação revolucionária. Foi a demonstração de que o povo, quando se organiza horizontalmente, é perfeitamente capaz de pensar, de aprender e de ensinar. Enquanto o Estado nos trata como incapazes e o Capital nos reduz a meros números, nós, anarquistas, reafirmamos: o conhecimento é poder, e esse poder deve ser de todos!

A roda de conversa é a antítese do parlamento burguês. Enquanto eles falam sobre nós, sem nós, nós falamos por nós, entre nós. É a ação direta aplicada à educação. É a semente da nova sociedade sendo plantada no terreno fértil da consciência popular. É a prova de que a revolução não se faz apenas com confronto, mas também com a paciência revolucionária de educar, organizar e construir poder popular.

Mas, companheiras e companheiros, de que adianta o debate se ele não se transformar em prática? A autogestão discutida deve virar uma cooperativa de trabalhadores, uma horta comunitária. O apoio mútuo deve se materializar em uma caixa de solidariedade para greves, no apoio a um morador despejado. A solidariedade de classe deve ecoar nos piquetes de luta e nas assembleias populares.

A UAF não veio a Lajinha para doutrinar. Veio para semear e, ao mesmo tempo, aprender. Convocamos a todos que participaram e a todos que sentem o chamado da liberdade:

Aos que entenderam que a verdadeira educação é libertária,

Aos que veem na autogestão o futuro da sociedade

Aos que praticam o apoio mútuo no seu dia a dia e querem transformá-lo em força política,

ASSOCIEM-SEM À UAF E VAMOS OMBREAR POR UM MUNDO MELHOR!

Que a roda de Lajinha não seja um evento isolado. Que seja o primeiro de muitos círculos de estudo, de muitos grupos de afinidade, de muitos núcleos de poder popular. Que de cada conversa surja uma comissão de bairro, que de cada debate nasça um novo sindicato combativo.

A noite em Lajinha foi iluminada não apenas pela luz do fim de tarde, mas pela chama da inteligência coletiva e da vontade de lutar. Que essa chama se alastre, queimando as correntes da ignorância e da opressão.

Pela educação libertária! Pela construção da organização popular antiestatal e anticapitalista!

A luta continua, na teoria e na prática!

Viva a Anarquia! Viva a UAF!

União Anarquista Federalista (UAF)